quinta-feira, 10 de março de 2011

No primeiro semestre de 2010 o investimento cai em Marília!
Mas o que é que cai?


            Esta análise não pretende exaurir nem completar a discussão sobre o tema em foco. A intenção é lançar algumas questões sobre a economia de Marília no que toca aos investimentos. Em um primeiro momento colocaremos algumas questões sobre a metodologia e, na seqüência, discutiremos a situação concreta, em termos dos investimentos, da região e do município de Marília.

            A intenção de escrever se deu em decorrência de que no final do mês passado a imprensa de Marília noticiou os resultados da “Pesquisa de Investimento ANUNCIADOS do Estado de São Paulo” - PIESP - pertencente ao rol de trabalhos da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados – Fundação SEADE. A manchete era a de que o investimento na Região Administrativa de Marília havia despencado 98% no primeiro semestre do ano de 2010 que é o último período analisado pelo SEADE. Este texto pretende trazer algumas questões sobre a pesquisa não para questionar a queda, pois ela é real, mas para minimizar essa conjuntura ao analisar os dados do período anterior que dão a base para a comparação.

         É importante salientar que existem outras pessoas - especialistas ou não - que, com certeza, fariam outras análises sobre a dinâmica de investimento em Marília. Meu intento foi o de trazer para essa discussão outras informações que não foram colocadas no debate.

            Também acredito que seja necessário situarmos alguns fatos da metodologia desta pesquisa para podermos fazer uma leitura não equivocada. Reitero: não que a situação não seja crítica para o município! Mas, se verificarmos os investimentos “produtivos” significativos no município nos últimos anos, podemos verificar que estes foram feitos por poucas empresas – fato este que, independente da magnitude do investimento, já é ruim - e que, os dados do ano anterior, que são a base de comparação para se encontrar os 98% de queda, foi um ano atípico devido ao crescimento pontual de investimento, de uma única empresa e, em função de que, este único investimento foi maior do que a soma dos outros 13 no ano 2009 e maior do que o total anual de qualquer outro total anual na série dos 12 anos que a pesquisa tem sido feita. Mais adiante apresentaremos dois gráficos onde são mostrados os dados da série anual considerando o ano do “anunciado” e um gráfico do ano do efetivo investimento.

O que significa?

            A palavra ANUNCIADOS em fonte caixa alta, sublinhada e em negrito no início do texto, traz uma das discussões que considero muito importante para a compreensão dos dados. Mas, o fato de ser “anunciada” (como veremos adiante seu significado)  não descaracteriza a comparação das séries históricas, pois a metodologia não mudou nos anos comparados e, independente do ano em que foram alocados os valores houve acentuada queda no primeiro semestre 2010 em relação a qualquer outro ano da série. Acredito que o grande problema nesta comparação – primeiro semestre - é que os resultados comparados não são de um ano fechado, mas, sim, primeiro semestre de 2009 com primeiro semestre de 2010 e, situações que ocorreram (mas ainda não foram analisadas) no segundo semestre de 2010 podem vir a mudar essa situação de queda quando comparado o ano de 2010 com o ano anterior.

            Mas, não vamos ficar muito otimistas com a afirmação acima. Mesmo tendo a possibilidade de que as informações do segundo semestre possam inverter a tendência de queda – as chances de reversão são pequenas, se atentarmos para os cenários captados por outras variáveis, também comparados às outras Regiões Administrativas.

            Outra questão metodológica que devemos atentar é que esta pesquisa é feita de forma criteriosa e exaustiva a partir de informações de sites e periódicos especializados em economia, da grande imprensa e de outros meios de comunicação. Por isso, o termo ANUNCIADOS. Após a identificação da existência de investimentos, os técnicos do SEADE começam os contatos pessoais com as empresas. Dessa maneira há a possibilidade de não ser possível a coleta das informações com todas as empresas que fizeram investimentos, mas essa “margem de erro” é nivelada para todas as regiões, e de difícil ocorrência em função de que este “anúncio” faz parte do marketing das empresas; importante ainda salientar que são considerados apenas investimentos iguais  ou superiores a US$10.000,00.

            Finalmente, outra questão importante é: “o que é pesquisado?”.     Neste caso é pesquisado apenas “investimento produtivo” como diz a metodologia do SEADE: “Cabe ressaltar que esta pesquisa considera apenas os investimentos produtivos, ou seja, gastos que visam ampliar permanentemente a capacidade de produzir bens e serviços das empresas (instalações físicas, máquinas e equipamentos, inovação tecnológica, etc.). Excluem-se, assim, os anúncios que envolvem transferências patrimoniais (aquisições e fusões), aplicações financeiras, gastos em publicidade e em treinamento de recursos humanos, construção de imóveis residenciais, compra de bens não-duráveis, capital de giro e outros.”



Os números.

            No release da Fundação SEADE é apontado um cenário favorável para a economia paulista, capitaneada pelas empresas TAM, Telefônica, Azul Linhas Aéreas, Banco Santander, Mercedez Bens e Toyota. O mesmo não ocorre na Região Administrativa de Marília ou no próprio município.

            Para uma primeira aproximação dos resultados podemos verificar na tabela abaixo que Marília vai contra a tendência de variação positiva que encontramos no total do Estado de São Paulo (10,51%) e, nossa região detém a maior variação negativa entre todas as Regiões. Não é só o valor do investimento que cai! Também o número total de empreendimentos cai em -61,54%, de 13 para 5. Neste quesito, não somos mais o último no ranking decrescente, somos o penúltimo, ficando na frente apenas da Região de Presidente Prudente.

           

Posição
Regiões Administrativas
N° de
Variação
Valor
Variação
Empreendimentos
(%)
(US$ milhões)
(%)
2009
2010
2009
2010
2010/2009
2009
2010
2010/2009
TOTAL
353
251
-28,90
11.420,36
12.620,29
10,51
1
1
RMSP
121
119
-1,65
3.047,42
6.357,97
108,63
4
2
RA Campinas
70
45
-35,71
476,26
1.775,18
272,73
10
3
RA Sorocaba
19
11
-42,11
51,97
971,80
1.770,10
2
4
RMBS
12
7
-41,67
564,28
549,76
-2,57
3
5
RA São José dos Campos
17
16
-5,88
480,54
461,94
-3,87
6
6
RA Central
10
4
-60,00
156,69
125,54
-19,88
11
7
RA Ribeirão Preto
15
7
-53,33
49,20
89,76
82,42
5
8
RA Bauru
18
7
-61,11
172,51
77,21
-55,24
13
9
RA Araçatuba
8
4
-50,00
20,09
39,34
95,82
8
10
RA São José do Rio Preto
13
6
-53,85
70,33
22,01
-68,70
14
11
RA Barretos
2
3
50,00
13,52
4,03
-70,19
15
12
RA Presidente Prudente
3
1
-66,67
2,96
3,37
13,85
7
13
RA Marília
13
5
-61,54
91,04
1,15
-98,74
9
14
RA Franca
11
-
-
56,98
-
-
12
15
RA Registro
1
-
-
36,76
-
-
...
...
Diversos Municípios (2)
20
16
-20,00
6.129,80
2.141,23
-65,07

Fonte: Fundação Seade. Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo – Piesp.  
(1) Dados preliminares.
(2) Empresas com atuação em mais de um município, em mais de uma Região Administrativa, sem definição de investimento para cada localidade.
           
            Se atentarmos para as duas variáveis em conjunto - totais de empreendimentos e valor (US$) total dos investimentos - verificaremos que, para o total do Estado de São Paulo, houve um pequeno aumento no valor investido e uma queda no total do empreendimento, fazendo com que a média de investimento por empreendimento subisse de US$ 32,4 milhões  no primeiro semestre de 2009 para US$ 50,3 milhões no mesmo semestre de 2010. Ainda por essa ótica, a região de Marília também vai na contra mão neste quesito, caindo de US$ 7 milhões em 2009  para US$ 0,2 milhões em 2010 – sempre comparando semestre com semestre.          

            Nos gráficos abaixo podemos verificar, para o primeiro semestre de 2010, o montante médio por investimento em todo o Estado, excluindo as Regiões de Registro e Franca que não tiveram investimentos neste semestre. Também verificamos neste gráfico a posição de cada Região no ranking.

            Já no gráfico do mesmo semestre para o ano de 2009, veremos que a média de investimento dos empreendimentos na Região de Marília era muito superior, ocupando no ranking o oitavo lugar, com média de US$ 7,0 milhões, acima de municípios como o de Campinas, Ribeirão Preto e Sorocaba que são áreas importantes nos investimentos paulistas.







Os Investimentos no Município de Marília.
           
            Se sairmos da análise do espaço divulgado pela imprensa – Região Administrativa - e desagregarmos as informações somente para o município de Marília não verificaremos grandes diferenças, mesmo porque é Marília que dá a tônica do desenvolvimento na Região. O primeiro gráfico específico do município de Marília que gostaríamos de apresentar é a série histórica da variação do investimento. Como colocado anteriormente a PIESP é divulgada tendo como eixo central de análise a “data de divulgação” do investimento  e não o período em que de fato ele ocorreu. Na divulgação dos dados, podemos verificar que investimentos divulgados em um determinado ano podem ter sido realizados de fato em anos anteriores, e/ou  no próprio ano da divulgação e/ou em período futuro.

            No gráfico de linha abaixo, apresentamos três informações. As duas primeiras apresentam, na linha do gráfico (vermelho e laranja), o total dos investimentos de cada ano sendo que a linha vermelha teve subtraído o valor investido pela Coca Cola. Podemos ver no deslocamento  para cima da linha “vermelha” ocasionado pelo investimento que Coca Cola  fez no ano de 2009, enquanto a linha “laranja, em 2009, tem sua dinâmica “subtraindo” esse investimento. Esse gráfico tem a intenção de clarear as relações da queda de 98% no primeiro semestre do ano de 2010, com e sem o investimento da Coca Cola devido ao seu grande valor individual.

            De qualquer maneira, continua sendo uma queda acentuada pois em 2009 tínhamos um investimento total de US$ 91,62 milhões; também em 2009, sem a Coca Cola passamos para 32,9 milhões e, no primeiro semestre de 2010 despencamos para um investimento total de míseros US$ 1,12 milhões. Importante salientar que, em toda a série histórica nunca estivemos com um nível tão baixo de investimento; por exemplo – em 2001 caímos de 35,63 milhões para 6,26 milhões e no ano de 2005 caímos de 35,63 milhões para 6,26 milhões; nos anos não apontados sempre estivemos com valores de dois dígitos.

            Neste mesmo gráfico, em verde,  apresentamos a relação dos investimentos classificados pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) como Indústria, para possibilitar uma visão da importância dela na nossa economia. Podemos também ver essa relação no gráfico de colunas abaixo.Podemos ver que, excluindo os anos de 2007 e 2010, é a indústria que determina o ritmo.

          

 
            No gráfico abaixo apresentamos essas mesmas informações com a diferença de que neste, apresentamos o investimento por ano de efetiva aplicação dos recursos. Como citado acima, o eixo de divulgação da pesquisa se dá pelo ano em que o empreendedor tornou público o investimento, o que pode ocorrer no mesmo ano de divulgação, em anos futuros ou em anos anteriores à divulgação. Desta maneira o gráfico abaixo apresenta as linhas com ondulações mais leves e não tão abruptas como o gráfico acima demonstrando uma melhor distribuição dos recursos no decorrer dos anos – exceto para o ano de 2009 pelos motivos já discutidos.


           
Uma outra discussão (polêmica) - mas para o futuro.

            Essa discussão por setores da economia é uma questão importante a ser colocada visando a discussão do que é trabalho produtivo e do que é improdutivo. Na verdade, acredito que essa discussão deva ser feita em torno da questão: o que de fato gera riqueza? Acredito também que essa discussão é parecida com a mesma colocada no início, na metodologia, quando o SEADE caracteriza o que é investimento: ““Cabe ressaltar que esta pesquisa considera apenas os investimentos produtivos....,”. Mas essa outra avança quando coloca em discussão “o que é produtivo?”.

            O ano da série histórica da PIESP  com maior investimento no município de Marília foi o de 2009, já registrado anteriormente. Neste ano tivemos dois grandes investidores – Coca Cola e Wal Mart. Uma do setor industrial e um do setor comercial. Aqui temos uma discussão interessante (que pode ser discutida em outro momento) que é a característica da economia de Marília utilizando-se como fonte a PIESP e o PIB Municipal e, junto com essa discussão, o que é trabalho produtivo e improdutivo, o que de fato gera riqueza. É inquestionável que a Indústria gera riqueza mas é questionável, pelo menos na minha visão, que o investimento em um supermercado seja produtivo pois não interfere em nada no valor de uso das mercadorias e na quantidade produzida – apenas concorre para a circulação das mercadorias. E mais... qual a importância destes investimentos para o “emprego” em nossa cidade?

            Não há duvidas de que a instalação de uma grande rede em um determinado espaço destrói o pequeno comércio. A federação do Comércio do Estado de São Paulo  afirmava, em 2002, que “cada emprego gerado por uma grande loja do Wal Mart, Pão de Açúcar e Carrefour acarreta o corte de uma vaga e meia nos pequenos estabelecimentos”. Segundo a Folha de São Paulo de 24 de maço de 2002. Mais.... na França existem leis que protegem o pequeno comércio e só permitem a instalação de Supermercados após uma análise de Impactos Sócio Econômico.

            Sem sombra de dúvida, os grandes supermercados oferecem uma gama de produtos que o pequeno não tem como ofertar e, talvez, os preços das mercadorias (pelo menos algumas delas) possam ser menores, o acesso em função dos grandes estacionamentos seja ponto positivo e, sem dúvida, gosto de fazer minhas compras em supermercados, mas não podemos defender o discurso que ouvimos constantemente em nosso municio de que, a cada grande rede que chega no município, criam-se empregos. Sem contar as possibilidades de isenção de impostos não oferecida aos pequenos comerciantes. Isso é uma discussão, no mínimo, polêmica.

             Voltando à nossa discussão principal, sobre a caracterização dos setores onde os investimentos foram direcionados nos últimos anos, o cálculo do PIB municipal caracteriza Marília, a partir do perfil do Valor Adicionado por Setor de Atividades, como um município com característica Multisetorial. Apenas para fins ilustrativos e de comparação, podemos verificar que os dois municípios com quem Marília mantém uma relação importante de trocas têm perfis distintos: Garça e Pompéia.
           
            Garça, é caracterizado pelo cálculo do PIB como “Perfil agropecuário com relevância no Estado” e, Pompéia, caracterizado como “Perfil industrial” .

            Marília não tem, segundo o cálculo do PIB, um perfil determinado e estudos mais apurados deveriam ser feitos para definição de suas inclinações – não que ser classificado como “multisetorial” traga implicações negativas.

            Talvez, contradizendo essa multisetorialidade,  a título de conclusão, podemos questionar essa característica ao verificarmos, por grupos de Atividades do CNAE, para onde foram direcionados os Investimentos em 2009, segundo a PIESP. Dos 100% dos investimentos 64,1% foram para a indústria, 34,8% para o Comércio e 1,04 para os serviços. Lembrando que, no caso da Indústria houve apenas um investimento, o já apresentado e discutido acima e que cria uma situação anômala dentro da série histórica. Se não considerarmos este único investimento industrial (Coca Cola) quase todos os investimentos foram direcionados para o comércio e, em especial, para a instalação de grandes redes comerciais no município.
           
            Abaixo apresentamos os totais da série histórica  por ramo de atividades.  O total de investimento na série histórica, de todas as atividades, foi de US$ 300,11 Milhões.

            Alerto que, para fins de melhor entendimento, foram somadas as 4 atividades relacionadas ao comércio em apenas uma atividade: Comercio – vários. As quatro atividades agregadas nesta última foram: Varejo e Reparação de Objetos; Atividades Imobiliárias – shopings; Atacado e Com. e Rep. Automotores e Varejo de Combustíveis.  Na tabela, essas quatro atividades,  são apresentadas separadamente.